PF indicia Lula e Marisa no caso do tríplex de Guarujá

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BELA MEGALE E ESTELITA HASS CARAZZAI
BRASÍLIA, DF, E CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal indiciou nesta sexta (26) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob suspeita de corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro no inquérito que investiga o tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo.
Este é o primeiro indiciamento de Lula na Operação Lava Jato. O petista também é investigado em outros inquéritos, ainda em andamento.
Segundo a Polícia Federal, Lula e sua mulher, Marisa Letícia, “foram beneficiários de vantagens ilícitas, por parte da construtora OAS, em valores que alcançaram R$ 2,4 milhões”.
Marisa também foi indiciada, sob suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A PF investigou a reforma do tríplex no condomínio Solaris, construído pela cooperativa Bancoop. O imóvel foi adquirido pelo OAS e recebeu reformas da empreiteira, uma das acusadas de corrupção no esquema da Petrobras.
A investigação da PF apontou que o tríplex estaria reservado à mulher de Lula, e foi reformado para beneficiar a família do petista.
Móveis e eletrodomésticos foram incorporados ao apartamento, cuja reforma custou R$ 1,1 milhão e foi tocada, segundo a investigação, por um ex-diretor da OAS, Paulo Gordilho.
“A OAS chegou a abrir até centro de custos específicos em sua contabilidade para controlar as despesas, com o apelido de ‘zeca pagodinho'”, destaca o relatório do indiciamento, assinado pelo delegado Márcio Anselmo.
Além disso, a OAS também pagou a mudança do acervo de Lula em Brasília, após o término do seu mandato presidencial. Segundo a PF, R$ 1,3 milhão foram gastos no contrato de transporte, feito em nome da construtora, mas destinado ao ex-presidente.
“Curiosamente, ao invés de realizarem o ato por intermédio do Instituto Lula, buscou-se a ocultação do real titular do contrato mediante a ‘contratação direta’ pela OAS, beneficiária direta do esquema de desvios de recursos no âmbito da Petrobras”, escreveu Anselmo.
INDICIADOS
Além de Lula e Marisa, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também foi indiciado, sob suspeita de corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Ele assina um dos termos do contrato da mudança de Lula, além de ter agendado as visitas do casal ao imóvel no Guarujá, segundo mensagens trocadas com o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro.
Pinheiro também foi indiciado no inquérito, sob suspeita de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, assim como Paulo Gordilho, também da OAS, sob suspeita de corrupção ativa.
O relatório do inquérito, agora, será encaminhado ao Ministério Público Federal, a quem cabe avaliar os indícios e apresentar ou não a denúncia. Caso a denúncia seja aceita pela Justiça, os indiciados se tornarão réus.
OUTRO LADO
A reportagem ainda não conseguiu contato com os advogados dos indiciados.
O ex-presidente sempre negou que tenha sido favorecido ilicitamente por empreiteiras.
Os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira têm dito que Lula “não praticou qualquer ato ilegal antes, durante ou após o seu mandato e por isso não teme qualquer investigação”.
A defesa de Lula também questiona a atuação do juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato no Paraná, e já pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) e até à ONU o afastamento do magistrado no caso, argumentando que ele assumiu o papel de “acusador”.
Os advogados argumentam que o juiz “não aponta um único elemento concreto” que vincule os fatos investigados à Lava Jato, e “formou time” com o Ministério Público Federal no caso.