Paulistanos querem usar prédios abandonados para abrigar moradores de rua

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Wellington Alves – Fotos: Ivanildo Porto

Com mais de 20 mil moradores de rua, a cidade de São Paulo busca soluções para resolver esse problema. A Pesquisa Viver em São Paulo: Assistência Social, realizada pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope Inteligência, aponta que cresceu o índice de paulistanos que defende a busca de moradias populares para beneficiar essas pessoas.

O Estação teve acesso à pesquisa antes dela ser divulgada, oficialmente, na tarde de hoje. A transformação de prédios desocupados e com dívidas de IPTU em residências para moradores de rua é apoiada por 33% dos entrevistados. Em comparação com o ano passado, houve crescimento de 7% do índice de paulistanos que defende essa política pública para resolver a questão dos moradores de rua.

Para a diretora de projetos da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães, a pesquisa revela a percepção dos paulistanos sobre o problema. “Aumentou muito o número de moradores de rua na cidade. O desemprego também cresceu. Há diversos prédios vazios. Dá para atender essas pessoas”, opina.

A especialista reclama da gestão Doria/Covas pela não aprovação do Plano Municipal de Habitação, que é tido como essencial para combater a questão dos moradores de rua. Em 2018, várias entidades cobraram os vereadores na Câmara Municipal para que projeto fosse aprovado. O documento define as ações para o déficit habitacional na Capital até 2032, mas segue sem previsão de aprovação. O Legislativo está em férias. As sessões retornam apenas em agosto.  

A pesquisa revela ainda que cresceu de 10% para 15% o índice de paulistanos que defende que haja maior limpeza dos locais com moradores de rua, o que é tido como uma forma de afastá-los. “São os paulistanos que não querem ver essas pessoas de forma alguma. É um pouco reflexo da polarização política.”

Desde o início desta gestão, a Prefeitura já trocou cinco vezes o comando da Secretaria de Assistência Social. A diretora de projetos da Rede Nossa São Paulo avalia que as constantes mudanças têm impactado nas políticas públicas. “É preciso buscar soluções.”

Ociosidade de imóveis ainda é desafio

Um casarão abandonado na Avenida Paulista é o símbolo dos imóveis que ficam ociosos por problemas judiciais, disputa entre herdeiros e dívida de IPTU. O local é tombado pelo patrimônio histórico estadual. Construído em 1905, o prédio é alvo de disputa entre os herdeiros de Joaquim Franco de Mello e o Governo do Estado de São Paulo.

Ivanildo Porto

Na região da Cracolândia, o problema é comum. Dezenas de prédios antigos, com diversos herdeiros, ficam ociosos porque não há acordo do espólio. Urbanistas entendem que a desapropriação desses imóveis é o caminho para promover a revitalização da região da Luz.

Albergue não é solução, aponta padre Júlio Lancellotti

O padre Júlio Lancellotti, vigário da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, afirma que a locação social é o melhor mecanismo para resolver a questão dos moradores de rua na capital paulista. Ele considera que o resultado da pesquisa Viver em São Paulo: Assistência Social mostra que os paulistanos querem ações para resolver, de fato, o problema.

Na opinião do sacerdote, a Prefeitura de São Paulo precisa ampliar o programa de locação social. No projeto, as vagas em hotéis populares custam valores simbólicos. “Quem ganha R$ 300, paga R$ 30. O resto é mantido pelo poder público e a pessoa ganha autonomia para recomeçar”, explica.

A pesquisa mostrou ainda que 34% dos paulistanos acreditam que é preciso oferecer cursos de capacitação para que os moradores de rua possam atuar no mercado de trabalho. Para Lancellotti, contudo, isso não é a raiz da problema. “Tem muito engenheiro, advogado e jornalista que estão desempregados. A questão das pessoas em situação de rua é habitacional.”

A Prefeitura costuma justificar que os albergues nem sempre ficam lotados e que os programas de abrigamento podem acolher 18 mil pessoas. Lancellotti, entretanto, criticou a proposta. “Ninguém gosta de albergue. Temos que trabalhar a autonomia deles.”

Outro lado

A Prefeitura de São Paulo informa, em nota, que, 937 famílias são beneficiadas com o Programa de Locação Social na capital paulista, o que equivale a 2.400 pessoas. “Vale destacar o empreendimento mais recente, entregue em fevereiro deste ano, o Asdrúbal do Nascimento II – Mário de Andrade, destinado à população em situação de rua, com 34 unidades habitacionais (UH). Além deste, existem seis edifícios com 903 unidades que compõem o parque público municipal do Programa de Locação: Olarias (137 UHs), Palacete dos Artistas (50 UHs), Residencial Parque do Gato (486 UHs), Senador Feijó (45 UHs) e Vila dos Idosos (145 UHs)”.

A Secretaria Municipal de Habitação afirmou que pretende ampliar o Projeto de Locação Social com a conclusão de mais dez edifícios na região central de São Paulo, que estão em processo de contratação de financiamento e beneficiarão 483 famílias. São eles: Edifício Assunção, Ed. Santo André, Ed. São Francisco, Ed. Conselheiro Carrão, Ed. Mooca, Ed. Praça da Bandeira, Ed. José Bonifácio, Ed. São João, Hotel São Lourenço e Terreno Luis Gama.

Já a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social justificou que realiza busca 24 horas por dia para identificar pessoas ou famílias em situação de rua e oferecer acolhimento na rede socioassistencial.